Serei livre sem saber?
Serei escravo numa gaiola de porta aberta?
Duas perguntas que revolvem o silencio da noite, como que brincando na tela da minha mente, desafiando, confundindo, abalando o sentir do que eu penso ser o que é, Mas será? Que certezas tenho que me mantêm na gaiola, tornando-as pilares de verdades que não só existem para mim… mas para mais uma mão cheia de pessoas…
O que farei com os meus amigos, inimigos, conhecidos ou desconhecidos e os demais se sair da gaiola que conheço? Estarei perdida de tudo e todos? Será essa a verdadeira Liberdade? Gosto de pensar que na gaiola sou livre porque ela me protege. Será? Dentro da gaiola eu sou a personagem que se tornou “eu”. Como poderei viver sem esse “eu”?
Que liberdade é essa? Serei feliz na liberdade que me condiciona e limita e dita o que posso ou não ser, fazer ou sentir… ? Mas sabe bem … porque sempre foi assim… não é mesmo? Liberdade dentro e fora da gaiola serão duas experiências opostas … ?
Estranho …! Que pergunta mais desafiadora! Pode a mesma palavra viver em mundos opostos e ter vida e significado completamente diferentes? Será que a linguagem dentro da gaiola só existe dentro dela? Ou existe uma linguagem que serve dois mundos de forma diferente e nunca percebemos isso? O que mudaria se isso fosse verdade?
Como falaria com as pessoas, como julgaria o que se passa à minha volta, que experiência teria dentro e fora da gaiola? Será que a gaiola não passa de uma grelha de significados criados pela mente humana, apropriados para nos dar uma experiência específica? Que interessante perspetiva!
Não, isso não deve ser assim … sempre achei que a verdade é a Verdade! Não posso imaginar um mundo todo condicionado a significados inventados! Não, seria um desastre! Uauh! Espero que tudo isto seja, um delírio, uma fantasia, criada na minha insónia, para me entreter… assim as horas vão passando, até o sono retornar …! Claro! Só pode ser! Ah! já sinto alívio! Por momentos levei esta possibilidade a sério!
Mas as perguntas continuam … e o sono não chega …! Se o que eu penso não for o que acredito que seja, quantos pensamentos diferentes poderei ter sobre uma mesma coisa? Bom … muitos, talvez. Qual será o verdadeiro? Para quem? Do que depende para ser verdadeiro? Se um mesmo pensamento, uma mesma história for lida pela minha mente com novos significados para as palavras e conceitos que a constroem … como será?
Será que o sono nunca mais chega? Estou a ficar meio louca … é melhor deixar de pensar nisto … fecho os olhos e espero que o sono se anuncie … mas nada acontece! Bolas! As perguntas continuam … que teimosia! Não quero mais este filme a passar pela minha mente … que loucura!
“E se … ” não se cala …! Continua a insinuar possibilidades que eu não quero ver… a inquietação aumenta. O que faço com esta insónia? Tomo um comprimido? Mas, uma outra pergunta torna-se mais consciente ” De que tens medo?” Eu? Não tenho medo! E se o medo for o patrono da gaiola, da realidade onde estás aprisionada? Será que chamas outros nomes ao medo, pelo medo que tens dele? Assim salvaguardas a tua realidade e, voluntariamente, te entregas e desistes de ti, daquela que és, fora dessa gaiola …
Que pensamentos estranhos … de onde vêm? O silencio não respondeu … mas a dúvida ficou. O sono venceu-me, por fim.
Acordei, o sol estava radiante, o mundo parecia igual, mas eu tinha a dúvida em mim. Ela acendeu uma fogueira cá dentro e nunca mais será a mesma coisa. “E se …” instalou-se e, a partir de então, inicia todas as minhas frases e pensamentos. Os sentimentos, emoções e avaliações deixaram de ser preto ou branco. São mais bolas de sabão ou, talvez, balões,,, e não grades da gaiola.
O que mais há para além disto?
E Se a perspetiva de mim e do mundo nunca mais for livre para me manter em cativeiro de uma só mentalidade?